6.2.10

Louças

Ela pega a bucha, coloca detergente, um pouco de água, e esfrega o prato, onde acabou de comer sua macarronada. Além desse prato, existe mais uma montanha de pratos, talheres, copos e etc. Seu irmão também mora junto de sua mãe e seu pai, só que ele é um daqueles moleques, que acha, que se lavar um copo, vai cair o saco. Ela prefere não discutir. Seus pais sempre a aborrecem, quando o assunto é relacionado a seu namorado, e mesmo assim, ela bate o pé e insiste, sabe que ele virá a ser um grande homem. Ela nunca gostou de pseudo-moralistas, e em sua vida, sempre viveu rodiada deles.

- Minha filha aquele seu namorado é um nóia, toda a favela tá comentando isso a meses, e o primo dele então nem se fala, o apelido dele é breque de ROTA, arrego de coxinha.

Quem sempre dizia isso, era seu tio Romário, uma daquelas pessoas do tipo: " Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Ele escondia, mas ela sabia, que ele vivia gastando o dinheiro, que ganhava nas obras em que trabalhava, com prostitutas no Space night club, um cabaré daqueles de dar medo. Seu tio sempre trabalhou em obras, ele tem 40 anos, e em sua carteira de trabalho apenas foi registrado numa firma de chocolate, a qual infelizmente mudou de estado, e demetiu muitos funcionários, durante o governo do F.H.C. Sua tia cega de dar gosto, fingia que não sabia sobre as escapadinhas de seu marido.
Um dia ela mandou seu tio tomar no cú, quando ele veio fazer mais uma de suas provocações, sobre seu namorado. Mas logo se arrependeu, seu tio apesar de mulherengo, era boa praça, e sempre distribuia balas e pirulitos, pra molecada da rua, além é claro de nunca ter deixado faltar nada em casa.

- Lava pra mim esse copo, por favorzinho?
- Tá seu moleque vagabundo, deixa ai.
- Iiiii vai se foder, só por quê aquele nóia do se namorado, não te ligou, está nervosinha?
- Não é problema seu, e vê se guarda pelo menos seus tênis no lugar.
- Vou nada, vou é jogar bola no campinho, fui.

Ela chinga ele, mas sem resultado, ele já estava com os pés, ou melhor, as chuteiras na rua pra ir jogar bola.

" Lere, le le le lere, lelelelelelele, eu prometo te dar carinho, e gosto de ser sozinho, livre pra voar....." - Era seu celular tocando, com a música do grupo de pagode que ela tanto gostava, e Ditinho tanto odiava, que chegava a espumar de raiva.

- Alô?
- Alô nada, não se faça de tonta, te quero dez horas da noite, aqui em casa, e se não vier com aquela lingerie que eu adoro, vai ficar de fora... tututututu....

Ela sempre dava broncas em Ditinho por causa dessas ligações eróticas relâmpagos que ele fazia, mas no fundo ela adorava entrar no jogo dele, e é claro, se entregar pra ele de corpo e alma. Algumas de suas amigas já trairam seus namorados, ela não, ela fazia diferente, queria ter um homem só, mas que a completasse de uma forma, que nenhum dos outros completaria. E este era Ditinho. Se lembra dos amigos falsos de Ditinho, que pelas costas dele, sempre chavecavam ela, um dia Ditinho pegou um deles falando ao ouvido dela e não prestou. Ditinho estourou um copo de vidro na cabeça dele, e este, pra não ser morto pelo primo de Ditinho, que também jurou matá-lo, sumiu da quebrada. Era por essas e outras que ela gostava de Ditinho.

Terminou de lavar as louças e arrumar a cozinha, e foi para seu quarto, preparar a surpresinha agradável de Ditinho nos mínimos detalhe, aquela noite a cama iria pegar fogo.


Renato Vital é escritor.

2 comentários:

Jéssica Balbino disse...

nóisquetá !
só sucesso, querido...contos muito bons. Sabe que Ditinho é como é chamado carinhosamente o santo padroeiro da minha cidade?
Negro, forte, folclórico e que mantém viva, até hoje, a tradição das congadas e dos caiapós !
bonito personagem ...espero que fim dos contos seja surpreende, bem mais que um livro publicado ou o personagem morto !

V.A.T.O disse...

urruuuuuuuuuuuuu + um + um urruuuuuuuuu sumemu nego sintonia monstruosa ......