26.5.15

Noite amada amante



Caminha pela rua a passos largos, como quem procura correr para alcançar a vida que deixou pra trás. É sugado pela sua alma, que já desferiu palavras incrédulas contra amores insensatos. Corre por quê talvez o AMANHÃ não mais existirá, só ficaram palavras. O vento bate forte em seu rosto, e a última palavra que disse foi o insulto, contra a dona da natureza, que serve o mundo com sua beleza e seu brilho.

Pensa na bíblia, e quanto tempo jogado fora lendo mentiras infundadas, pensa em como sempre fora enganado, por tantas pessoas boas e más de coração. Vigia a lua que o vigia, e pensa que talvez ela fosse uma grande bola, num imenso vazio, ou talvez ela só ficasse pra encher o saco dele, com seu esplendor.

- Será que estou no caminho certo?

- Será que sou só eu que penso assim, ou talvez será que só sou eu que penso?

Ouve barulhos numa garagem/igreja, pessoas clamando alguém que não vem, mas talvez isso sirva de consolo pra quem anda de moletas usando sua fé como desculpa pra tudo e pra todos. O diabo já levou todo mundo pro inferno, e esse inferno se chama terra, e nessa terra o diabo criou outra fisionomia, um tipo homo sapiens. Pensa no papa criticando o consumismo com ouro e diamante no seu crucifixo. Pensa no pastor fiel a deus e ao diabo, acumulando riquezas em nome de deus e andando na fé do blindado na cidade de asfalto e assalto. Religião prisão dos tolos.

Cai na real com o brilho do farol no seu globo ocular, se lembra das multas a pagar... arranca e deixa pra trás a moral, afinal, ali não havia radar. O vento que bate no rosto é uma das maiores recompensas de se estar vivo. Se sente um rei por estar vivo, se sente a pessoa mais sortuda do mundo por ter sobrevivido ao massacre. Mas se lembra que está na selva, e é muito cedo pra se comemorar algo. São muitas coisas ditas, mas não está na hora de pensar, a cerveja está gelada, o tempo é curto, o cigarro está aceso, o tempo é curto, minhas mãos já não apontam pra nada, o tempo é curto demais pra pensar em algo. A solução está nas nossas mãos, mas é mais fácil embutir tudo e usar o escudo chamado religião.

Dentre vários goles, o brilho nos olhos já não é mais de entusiasmo, talvez seja alegria artificial. O sabor do veneno lhe parece agora mais surreal, pois quando o último gole for dado, sua vida vai dar uma volta em 360 graus e tudo voltará ao normal. Pensa nos amigos que perdeu por ser sincero e chato, e nada mais voltará como era antes. Não basta se queixar tem que agir. Mas a noite agora é sua amante, e ela que o deixe dormir. Dormindo os sentidos se aquietam e as loucuras se ausentam. Dormir para procurar a resposta, por quê as pessoas buscam motivos pra sorrir?

Renato Vital é poeta, escritor e torcedor do Corinthians.