22.4.10

Patrícia chega em casa

Virou a tranca, abriu a porta, a porta bateu atrás dela. Foi pro seu quarto, correndo, entrou, fechou a porta, e deu pulos de alegria e excitação. E no centro do seu pensamento, um filme se passando, e ela imaginando:

Nossa, o Magalhães é uma delícia na cama, prestativo, carinhoso, quente, caloroso, nossa como ele é caloroso. Gostaria de ter ele, só pra mim, aqui comigo, a hora que eu quisesse. Imagina, só bebida cara, só luxo, só serviço de qualidade, serviço de primeira. Meu namorado tá me esperando, mas quero que ele se dane. Hoje vou chegar atrasada só de bronca. Ele não tem o que o Magalhães tem, ele é um zero à esquerda, um bosta, um falido. Mas o Ditinho, ah o Ditinho, esse me paga, me humilhou, como ele pode.

Ditinho abre a porta de casa, vai até a cozinha abre a geladeira, e pensa em colocar uma placa dentro dela: " falida". Abre a carteira, tem dez reais dentro, e tinha que arrumar 50 reais até o fim de semana, pois no fim de semana levaria sua mina pra praia. Desde que o Tevez entrou em coma, ele vinha usando sua moto. A fome aperta, e não tem outra alternativa, se não ir até a padaria, comprar um real de pão e um e cinquenta de mussarela. Segunda faria as compras, ou melhor, compraria algumas coisinhas. Ditinho vai até a padaria, comprar o lanche da noite. Duas minas passam ao lado dele, uma delas o observa e pisca pra ele. Ele pensa: " Na época que eu era solteiro ou na época que eu namorava a Cristina, não tinha essa sorte, inda bem que minha mina é firmeza".

Aconteceu dois dias atrás, ele estava sozinho comigo na sala onde ficam os arquivos da empresa. Ele estava a procura de algum documento, e eu entrei sem que ele percebesse. Coloquei as mãos no ombro dele, e ele me perguntou o que estava acontecendo. Eu tentei beija-lô, ele me afastou, e mandou eu parar de palhaçada. Que ódio, que raiva que eu fiquei, esse maldito me paga. Ele ainda vai se render, Ditinho não perde por esperar. Ele vai ser meu também. Não sei o que houve, ele ficava olhando minhas pernas, e eu achei que ele me queria. Vai entender esses homens, são tudo uns presunçosos e orgulhosos. Droga, aquele meu namorado tá me chamando, vou ver o que ele quer.

- Alô, é o senhor Benedito?

- Sim ele mesmo.

- Aqui é do Hospital Sabóia, o senhor deixou seu telefone pra que entrassemos em contato. Parece que seu primo saiu do coma, o senhor poderia vir pra cá no horário das visitas.

- Caraiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Renato Vital é escritor .

Nenhum comentário: