5.9.08

Gilberto Gil, ou O DIA EM QUE QUEBREI TODOS SEUS DISCOS

Gilberto Gil, ou O DIA EM QUE QUEBREI TODOS OS SEUS DISCOS
baseado em fatos reais

Sou motorista a bastante tempo, já levei bastante gente famosa pra diversos lugares da cidade. Esse imenso Rio de Janeiro cidade maravilhosa (pros ricos), já me trouxe várias experiências.
Já carreguei traveco famoso, jogador de time de futebol, que é chegado em traveco, modelo famosa que faz programa pra empresário bem sucedido, apresentadora de televisão que invade pelada camarim de rockeiro internacional famoso pra ganhar pensão, ator da globo, atriz da globo bêbada etc. Bom mas vamos logo onde quero chegar, ou melhor, onde minha raiva está.
Certo dia estava lá na minha casa, quando de repente toca o celular, era da empresa, me disseram pra eu seguir pra lá, que teria que locomover alguém pra um certo lugar.
Quando cheguei lá, comprimentei que estava por perto, coloquei meu quepe, e fui pra labuta. Chego no local marcado, um hotel super luxuoso do Rio, quando de repente me entra no meu carro logo quem? adivinha? não poderia ser verdade mas era!
Gilberto Gil, logo eu que tinha ( logo explico por quê "tinha") todos seus vinils, de protesto. Grande precursor da Tropicália, um grande camarada da camada mais pobre da Bahia, muito humilde ( era o que eu achava).

- Gilberto Gil, cara, eu sou seu fã, te estimo pra caramba, tenho todos os seus vinils, admiro muito seu trabalho e....
- Fica queto, você é o motorista, só trabalha e dirige, não fala, não fala comigo que eu não sou que nem você, fica na sua.

Meu castelo caiu naquele momento, mas que me aguardasse. Cheguei em casa aquele dia, puto da vida, fui até o quartinho onde ficavam meus vinis, e empilhei os do Gilberto Gil.
Fui até a caixa de ferramentas, achei o maior martelo que tinha lá dentro. Coloquei os discos no meio da sala, e com toda a minha força, e com os olhos cheios de lágrimas, desferi diversos golpes sobre os meus tão antigos vinils, daquele mascarado do Gilberto Gil. Logo quando terminei o serviço, juntei os pedaços, peguei um saco, coloquei tudo dentro e joguei na rua, pro lixeiro pegar.
As fotos e artigos rasguei tudo, um a um.
Foi assim que me desilude, no dia em que meu ídolo me deu as costas, e se aliou a burguesia.
Dessa forma hoje o encaro como um burguês, e é isso que ele se tornou. Fim de papo.

Renato Vital escritor, colunista do site Rap Nacional e Mundo da rua, poeta e membro da Cooperifa. www.rapnacional.com.br www.mundodarua.com.br www.colecionadordepedras.blogspot.com

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