25.7.11

Olhos Feiticeiros ( texto integrante da saga de Ditinho)

Olhos feiticeiros

" Tem feitiço os teus olhos, são os mais belos do mundo, olhos assim, não existem mais... mais... mais..." Jerry Adriani.

Aquele dia acordei sem vontade de ir pra rua, a rua já andava tão monotona, que até os vira-latas estavam migrando para outras áreas. Vesti a roupa e fui até a padaria comprar pão, detestava a cara de puta mal comida, que a atendente fazia todas as manhãs, mas de qualquer forma, lá estava eu, quase todas as manhãs, comprando dez pãezinhos, mortadela, e as vezes presunto e mussarela. Cheguei na padaria e pedi o de sempre pra atendente, e a mesma cara de sempre ela estava fazendo, sem novidades, paguei o que eu comprei no caixa e sai pra voltar e tomar meu cafézinho de sempre.

Vindo pela rua, havia algumas testemunhas de Jeová enchendo o saco logo cedo do povo, nunca tive nada contra os testemunhas de Jeová é lógico, tirando a vontade de sentar a mão na oreia deles quando me acordavam cedo pra atender eles, de raiva sempre fingia que num tava em casa. Os testemunhas de Jeová num tem nada de incomum em relação as outras religiões e doutrinas, inclusive o fato de achar que: "a minha religião é a melhor" coisa que a maioria dos fiéis religiosos sentem.

Dobrei a esquina bem se esquivando no muro mesmo, pra não ter que falar com eles, quando terminei de virar a esquina, uma delas me pegou pelos braços, já ia me preparar pra dizer que o feijão tava no fogo, mas quando a olhei fiquei paralisado. Tentei balbuciar palavras, mas as palavras não saiam, a mina era simplesmente espetacular:

- Tem um tempo pra ouvir a palavra do Senhor? ela perguntou.

Respondi

- Te te te te tenho, só se for agora!

Na verdade nem prestava atenção no que ela dizia, meus olhos só conseguiam enchergar os delas e toda a sua beleza. Minha mãe já me dizia, que pensar besteira de crente é pecado, mas a única coisa que me veio a cabeça, era pegar ela, e beijar todinha.

Ia completar 20 anos, podia casar amanhã mesmo se fosse possível, desde que fosse com ela. Eu dava casa, comida e roupa lavada, e ainda falava I love you todas as manhãs se fosse necessário.
Quando ela terminou de falar, eu só conseguia olhar para os olhos dela, olhos castanhos claros que reluziam junto do sol da manhã, eu num queria, mas minha mente pecava ao olhar pra ela, com todo respeito que ela merecia é claro. Até me lembrei de um verso que li num sei aonde que dizia: “Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.”
Num sei bem de quem era, só sei que era coisa do Ditinho, que tinha se dado a ler livros agora, e acabou me emprestando alguns para eu ler. Lembrei era de um tal de Chico Buarque.

Ela percebeu que eu estava olhando pra ela, que nem um zumbi, e me perguntou:

- Você tá me olhando tanto, me conhece de algum lugar?
Respondi:
- Não, mas a gente pode casar quando quiser...
Ela riu e perguntou:
- O quê?
Eu disse:
- A gente pode marcar de eu ir pras reunião dos Testemunhas de Jeová quando quiser...
-Ah tá. Você mora por aqui, eu nunca te vi por aqui?
- Sim, moro aqui perto.
Ah que bom, a gente pode marcar sim, vou te dar esse folheto i...
- Não, me dá seu telefone, que eu te ligo e a gente marca.

Ela deu um sorrisinho, olhando pra mim que eu quase desmaiei, conversamos mais um tempo, quando as coisas iam caminhar pra minha vitória, chegou uma velha, que pela aparência só podia ser mãe dela. Quando a gente se despediu ela me deu um folheto, que nem olhei de raiva, e já enfiei no bolso. E a maldita velha se foi junto com ela, balbuciando palavras, mas deu pra ver que era bronca, pois fiquei um bom tempo conversando com ela, na certa estaria dizendo: - Minha filha, não quero você de caso, com esses homens daqui, você tem que escolher um homem de Deus.

Cheguei em casa, preparei o café, e tomei o café pensando nela, me lembrei do folheto que ela me deu, e procurei no bolso. Sem muito entusiasmo, olhei a frente do folheto, imagens de animais junto com pessoas, gente feliz no paraíso prometido, palavras proféticas e palavras sagradas misturadas com doutrinas voltadas para a igreja. Quando virei e vi o verso do folheto, vi algo rabiscado bem embaixo do final do endereço da igreja. Desacreditei, mas ela anotou o telefone dela no folheto, quando sua mãe se entrometia em nossa conversa, e me falava asneiras da igreja. Fechei meus olhos e imaginei seus lindos olhos que me enfeitiçaram, e fiquei pensando: mais tarde ligo pra ela, mas o que eu quero mesmo, é poder olhar novamente aqueles olhos feiticeiros.

Continua...

Renato Vital escritor, poeta e Rapper do grupo Fato Realista

Fato Realista - http://www.bandasdegaragem.com.br/radiofatorealista

Um comentário:

Robson Canto disse...

Vixi mil graus! hehehe