21.8.11

Tua boca, minha morada

" Rosas rubras pra ti, eu comprei esta noite..." Jerry Adriani

Até agora num entendo, por quê você decidiu me ignorar. Aquele beijo atrevido, na calçada em frente a rua fria, do bairro vago, não foi uma forma de ti vulgarizar. Poxa, quando me fita com seus olhos cristalinos, me deixa boquiaberto, e sem palavras para expressar o mais inocente semblante. Sua voz acalenta a dor, me leva pra outro lugar, faz a guerra virar paz, me tira do purgatório, me eleva ao palácios dos deuses.

Mas foi só um beijo.

Você se virou, talvez fosse me dizer algo, sei lá sobre sua fé fervorosa no Senhor, ou então no seu perfil cheio de pudor. Minha pele arrepiou ao sentir em minhas narinas tão suave perfume. Minha cabeça virou mais de dez vezes, ao sentir o clima ao redor, sei lá, não precisa de cenário, quando se está em frente a uma obra-prima de Deus. Seus cabelos aveludados, no qual minhas mãos por um instante passearam, me fizeram imaginar, um lugar de sossego, um sítio, um rio, o mar. Um lugar só pra nós dois se encontrar.

Mas foi só um beijo.

Fui eu que apelei? tá bom. Eu concordo. Talvez concorde também, que não seja o homem ao qual você sonhou em noites de insônia e desilusão. Mas eu coloco em jogo minha vida, que você jamais verá ou conhecerá alguém, que te queira tão bem, quanto eu. Farei tudo por ti, Rainha dos meus sonhos, Flor mais cobiçada e rara que possa existir. Por você construiria um castelo, tijolo a tijolo, só pra contemplar a cada amanhecer e anoitecer, sua beleza de majestade feminina. Calos nas mãos, canseira nos pés, pouco me importa, sabe por quê? Por quê foi você que preencheu esse vazio, e foi você que despertou o sentimento escondido, em alguma parte do meu coração, já a muito endurecido e frio, por causa de pessoas vã e sem brilho algum.

È... mais foi só um beijo.

Quando com minhas mãos te puxei pela cintura, e com delicadeza acariciei seu lindo rosto, por um impulso e vontade infinita, encostei meus lábios nos seus, e esse sonho durou por alguns segundos, talvez o bastante pra abrilhantar minha vida, já um tanto sofrida. Nem me lembro bem o que aconteceu na sequencia, só sei que se desgarrou de mim, e saiu andando depressa, como quem foge da felicidade, da alegria, do dom de Deus de amar. Não me dei por vencido, e te persegui por ruas, que já pouco me importam lembranças passadas... mulheres simples mulheres, que não me fizeram diferença e pouco me cativaram ou ganharam. Parou naquela porta, e entrou depressa... mas eu notei, que olhou pra trás, pra ver se alguém te seguia. Melhor, notei que me notou, e ao me ver, fechou a porta, não como quem ignora, mas sim como quem não consegue ainda dar o voto de confiança da vida, do amor, da felicidade eterna. Queria ser poeta, pra lhe declarar palavras tão bonitas, que você jamais ouviu, ou esperou ouvir da boca de um homem. Mas o que posso dizer é:

Deixe Tua boca ser minha morada!

Caminho de volta pra casa, como quem flutua, a rua agora é só um detalhe, e o céu estrelado contempla mais um apaixonado.

Renato Vital Escritor e atualmente escreve seu livro A saga de Ditinho

Dia 20 de setembro, na livraria suburbano convicto tem:





Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda escreve muito bem, Renato... Parabéns, viu?