17.5.11

Éramos nós dois dividindo a rua, dividindo o mundo




tentando entender a nova geração, escrevi esse texto dedicado ao meu sobrinho de 14 anos.



ÉRAMOS NÓS DOIS DIVIDINDO A RUA, DIVIDINDO O MUNDO



Lembro como se fosse hoje, duas árvores, duas calçadas, duas pessoas, uma rua.


Não sei se percebi a sua existência de uma vez, mas creio que éramos apenas nós dois no mundo. Tudo a nossa volta era apenas a rotina, a rotina do dia-a-dia, que não nos fazia se encontrar. Éramos dois jovens, com um passado breve, tão próximos como nossos sonhos, que voavam por ai, loucos para serem agarrados por nós.



Eu caminhava encontrando pessoas sem sentido, que não me preenchiam por completo, eram simples passatempos. Você também deve ter sentido isso, garanto que olhava a sua volta, procurando as mesmas respostas que eu, tentando preencher o vazio que assolava o nosso peito.


Milhões de mentes e corações amargurados, passavam diante de nossos olhos, e só conseguiamos olhar pro nosso próprio umbigo, o próximo não nos importava.


O mundo que a gente vivia e vive, era e é assim, e eles ainda querem jogar a culpa em nós. Como se a gente tivesse culpa, que o mundo não passa de poderes e prazeres, e que é um querendo matar o outro, embora disfarcem bem. Como se fossemos os culpados, por querer ter o mundo só pra nós dois, e esquecer que existe mentiras e mesquinhez lá fora.



Pois é, eles acham que nos entende, grande piada, já perderam a mocidade a tempos, e acham que vivemos no mesmo mundo. Estão completamente enganados, o mundo é apenas nós dois.



Eu me lembro como se fosse hoje, você morava tão perto de mim, e quando a luz da vida permitiu, o mundo se abriu pra nós, pra sermos dois em um só. Um só coração dividindo a rua, dividindo nosso brilho juvenil, das tristezas e amarguras dos demais.


Sorrisos, brincadeiras, abraços, beijos, curtição, tudo, tudo, tudo o que faziamos juntos era motivo de alegria. A nossa felicidade, dividida do mundo, no olho da rua.



Quando você se mudou, sabia que não te deixaria, duas raízes fincadas, entrelaçadas em nossos corações nos uniu, e tudo o que precisavamos e precisamos é tempo, tempo para fazer valer as nossas emoções.



Lembra que a gente queria fugir de casa, e viver o hoje, como se não houvesse amanhã o amanhã?



Estava disposto a crescer e amadurecer um pouco mais, pra não perder o nosso espaço, o nosso tempo a se aproveitar, mesmo se ele fosse reduzido pelo trabalho, que eu estava disposto a encarar. Tá bom, estariamos no mundo deles, mas nunca nos juntaríamos a eles.


Mas nossos pais apesar de tão adultos e obscuros, ainda conseguiam tentar entender a gente. E ser mais radical, quanto aos nossos desejos, não foi necessário... ao menos por enquanto.


Nesse exato momento estamos juntos, no nosso mundo, eles acham que também estão. Eles ficam nos olhando, olhando, tentando entender. Acham que somos bobôs, mas sabemos muito bem o que fazemos e o que queremos.



Até onde vamos? até o onde o nosso mundo permitir.



O que eu queria dizer mesmo, agora, é que eles não sabem e ninguém sabe o quanto NOS AMAMOS! E isso, e eu também não divido com ninguém.



Renato Vital é escritor, poeta, rapper e tenta entender a nova geração.

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