27.3.10

Conversas ou brigas, pouco importa

- Magalhães, como assim que flores? as que você me deu semana passada, não se lembra.
- Na verdade não querida, mas foi por causa do dia das mulheres né, parabéns viu.
- Presta atenção Magalhães, não brinca com isso, nosso casamento está indo por água abaixo Magalhães, presta atenção.
- Tá bom, to aqui parado, pode falar, que você quer?
- Um pouco de atenção, só isso.
- Ah agora você quer atenção, é isso? A vinte anos quando nos casamos, você queria conforto, uma casa boa, um carro pra andar. Quando nos casamos, você não queria homem duro do seu lado, queria só finezas, coisas chiques, pra se contrastarem com sua infinita beleza, não é mesmo? Pois bem querida Dona Simone, você tem seu maldito conforto, agora pode me deixar trabalhar?
- Magalhães, eu, eu, eu,
- Quer a separação, é isso Simone, é isso?
- Magalhães, solte o meu braço está machucando, os meninos podem escutar...
- Então pare com suas crises infernais, tá ok, to de saco cheio da suas picuinhas, nhé, nhé, nhé, conversinha pra boi dormir, agora minha querida esposa deixa, seu querido marido, trabalhar?
- Tudo bem, vou pro quarto, se lembra do nosso quarto, aquele que tantas vezes trocamos carícias, aquele que eu sempre me entreguei pra ti, de corpo e alma, aquele que sempre te chamei de meu amor?
- Lembro sim, fica ali depois do quarto da Paty, no final do corredor, precisa de um guia turistico pra te acompanhar até lá?
- Preciso de um marido menos ignorante, bruto e imbecil!
- A próxima vez que me ofender dessa maneira, vai se arrepender.
- Sério, to pouco me lixando.
- Vá a merda Simone, me dá um tempo.
- Me dá um tempo você, me dá um tempo você tá...

Simone começa a chorar desesperadamente, e a tacar objetos de porcelana na direção de Magalhães, ele se esquiva como pode.

- Para sua maldita, me respeita.

Um dos objetos de porcelana, acerta o supercílio de Magalhães, que começa a sangrar muito.

- Viu o que fez sua maldita, miserável, desequilibrada, eu devia quebrar a sua cara, sua nojenta.

Magalhães pega as chaves, e sai do apartamento, batendo a porta com toda força.

- Mãe o que aconteceu, por quê tá chorando?
- Não é nada Patrícia, seu pai é um bruto, ignorante, que só pensa em trabalhar, trabalhar, sair com os amigos, e esquece que eu ainda sou a esposa dele.
- Homem, mãe, a gente tem que usar, tem que usar e jogar fora, se não se transforma nisso ai. O papai nem dá mais atenção pra gente. Eu mesma sou assim, homem é que nem chiclete, a gente pisa, pisa, ele gruda no nosso sapato e não sai do nosso pé.
- Filha eu to falando sério, não sei mais o que faço.
- Eu sei, se veste bem, se transforma, fica bem bonita, e sai com suas amigas, assim ele vai te dar mais valor, pode apostar.
- Já tentei isso mil vezes, você sabe disso.
- Sei lá manhê, a num sei sabe, é assim, você tem que ser mais ousada, chegar e ganhar o papai com jeito, com malícia...
- Menina, olha o respeito, apesar que você tem razão, mas isso a mamãe já tentou também.

O telefone toca, e Paty vai atender em seu quarto, sua mãe continua na sala chorando.

Magalhães encosta o carro numa padaria, entra no estabelecimento, vai até o balcão e pede uma cerveja. Duas loiras sozinhas, observam ele, ele nem percebe. Magalhães pensa em acender um cigarro, mas lembra da lei do Serra, que proíbe os fumantes de fumar, desiste do ato. Magalhães chinga o governador no seu íntimo, mas se lembra do ocorrido em sua casa. Não sabe o que era, mas sua mulher não era mais a mesma, não o atraia da mesma forma de antes. Uma das loiras passam por Magalhães, pisca pra ele, e ele percebe. Ela se senta próximo dele, cruza as pernas, e o observa. Magalhães apenas a observa também, não tem reação alguma, aquele momento não estava com cabeça pra isso. A loira passa perto dele, e esbarra de propósito. Magalhães tenta se desculpar, mas a loira o intima:

- Calma, não foi nada. Você tá sozinho ai?
- To sim.
- Quer sentar com a gente naquela mesa, pra gente conversar?
- Sabe o que é, em outras oportunidades agradeceria muito mas....

A loira puxa Magalhães pelo braço, e o leva até a mesa. Ela está de mini saia, bem curta, e sua amiga também, Magalhães senta na mesa. Sem ter o que falar, Magalhães apenas ri do que as duas dizem. Passadas duas horas, e muitas cervejas, Magalhães diz que precisa ir embora. Elas o comprimentam:

- Já vai tá cedo, não quer tomar a saideira?
- Estou tomando a saideira a horas...
- Por favor só mais essa.

Magalhães olha pras coxas das loiras, e responde:

- Eu acho melhor ir pra um lugar mais adequado, o que acham...
- E tipo o quê? - uma delas diz.
- Você sabe espertinha, e então vamos?

As duas, com o rabo quente, não pensam duas vezes, e entram no carro de Magalhães. Ele avista um motel cinco estrelas. Entra dentro dele, e pede a melhor suíte do lugar. Magalhães se deixa levar, e entra no paraíso dos pecadores.

Renato Vital é escritor.

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