3.3.10

Cervejaria? logo eu que não bebo.

Ditinho avista a fachada da cervejaria. Belas instalações, pra belos cartões de crédito, talões de cheque especial e carteiras recheadas de grana. Um segurança avista Ditinho se aproximando, e como Ditinho tem cara de periferia, o alarme do preconceito dispara. "É feio, preto e pobre, Q.R.U à vista".
O segurança se aproxima:

- Pois não senhor, posso ajudar?
- Pode começar me arrumando uma mesa.
- O senhor já é cliente da casa?
- Não, mas não me enche o saco, eu sei que você tá perguntando isso, por causa das minhas roupas e do meu jeito, mas não se preocupe, não vou demorar nessa merda.
- Se for pra arrumar confusão, o senhor pode se retirar.
- Oras, sem problemas, vem me tirar.

Quando o segurança partia pra cima de Ditinho, dona Simone chegou, e ai a conversa mudou de figura e de molde:

- Pois não senhora, estamos tendo um problema com esse cidadão, ele por acaso é seu amigo?
- Sim é meu amigo. Me acompanhe Ditinho.

Dona Simone estava impecável, tomou um banho de loja e passou amanhã inteira no cabelereiro.

- Nossa a senhora está linda, tudo isso pra uma simples conversa?
- Você é especial pra mim Ditinho, mas antes de mais nada, vamos nos sentar.
- Sim claro.

O segurança permanece na porta, e não para de encarar Ditinho, o que não acontece com Dona Simone, o garçom se aproxima e pergunta:

- E então o que vai ser hoje?
- Duas taças de chopp por favor, e uma porção de... o que você quer Dito?
- Num sei, a senhora quem sabe, o que vier agradeço de coração.
- Agora sim tenho certeza, você é realmente encantador, garçom traga as duas taças de chopp e a melhor porção que tiver.
- Sim senhora.

Dona Simone olha pra Ditinho, com um olhar que ele já conhece, mas não se atreve a comentar. Uma ligação e Dona Simone atende:

- To aqui no trabalho, resolvi fazer um extra hoje, sim, sim, eu sei que tá tudo bem. Beijos tchau. Era o Magalhães, com a mesma conversinha torta de sempre.
- Tá tudo bem entre vocês dois?
- Tudo péssimo Ditinho, foi pra isso mesmo que eu te chamei aqui. Sabe as coisas não vão muito bem em casa. Isso não tem nada haver com seu serviço, mas tenho uma outra proposta pra te fazer.
- Outra proposta, do que se trata, um horário novo, um cargo novo?
- Mais ou menos....

O garçom chega, coloca os dois chopps em cima da mesa, esfrega as mãos, pois a gorjeta seria gorda. Logo em seguida chega a porção.

- Sabe, eu to precisando de carinho, não é fácil, segunda a sexta, trabalhar naquele stress de empresa, eu to precisando... eu to precisando... eu to precisando de você.

Ditinho sente um choque, tipo uma pontada no peito, se lembra da namorada que tá em casa. Nunca havia traído ela, outras já havia traido, mas elas também não prestavam. Essa era diferente, ele a amava. Dona Simone coloca as mãos sobre as de Ditinho, que soa frio.

- E então, não vai tomar seu chopp.
- É que não sou muito de beber, mas não vou fazer desfeita não.
- Por quê não me disse, eu pedia leite pra você hahahha.
- Hahahahah, também não é pra tanto.
- E então, como que vai ser?
- Sabe dona Simone, nunca trai a Beth, não é fácil isso sabe, ela não merece, dá pra entender.
- Eu sou feia, é isso que se quer dizer?
- Não, não é isso.
- Ditinho, quem você quer enganar, vai dizer que nunca traiu ela, eu que sou besta que nunca trai Magalhães, mesmo aquele corno merecendo.
- Calma dona Simone.
- Que calma que nada, eu to conversando com você sério entende, não é palhaçada, eu preciso de você.
- Dona Simone não vai dar.
- Tudo bem se tá precisando pensar né.
- Nã.....
- Calado, nem mais uma palavra.
- Vou te dar uns dias pra pensar.

Terminaram de tomar o chopp, o garçom recebeu sua gorjeta gorda, dez reais. Na saída o mesmo segurança, tornou a encarar Ditinho, ele discretamente lhe mostrou o dedo médio. O segurança ficou bufando de raiva.

- Será que pelo menos uma carona eu posso te dar.
- Pode, sem problemas.

Dona Simone mais uma vez tornou a seduzir Ditinho, abaixando o zíper da blusa e mostrando o decote.

- Ditinho, garanto que semana que vem vai ser diferente, você vai estar mais solto, e vai topar algo diferente comigo.

Silêncio de Ditinho. Ditinho desce do carro de Dona Simone, e antes de ele tomar o rumo de sua casa, ela ainda diz piscando os olhos:

- Pensa com carinho tá, até.
- Até mais, obrigado pela carona.

Ditinho vai pra casa, pensando no ocorrido, e pensando em sua namorada.

Renato Vital é escritor.

3 comentários:

Jéssica Balbino disse...

E aí? será que ele vai?
está acompanhando meus contos do busão?
fui inspirada por vc !
bjo

V.A.T.O disse...

ditinhu um sobrevivente periferico ey .....

DANILO. disse...

muito interessante essas historias de ditinho tio, parabens mesmo ai é noiz na evoluçao.

conhece meus texto tambem tio tai ó.


http://daniloliteratude.blogspot.com/