- Ditinho?
- Eu mesmo quem tá falando?
- Sou eu Ditinho... a Simone.
- Que! Iche deixei algum serviço pra trás ontem! Se entende né Dona Simone? Sexta-feira é correria, e também tinha uma festa pra eu ir com minha namorada e tal...
- Nada disso Benedito, ou melhor, Ditinho....
- Então, não entendo, e tá tão cedo, olha só, são só seis e meia da manhã... Não que eu esteja reclamando, é uma honra atender a senhora e...
- Calma Dito, não é nada disso.
- E então, posso ajudar a senhora no quê?
Silêncio do outro lado da linha.
- Dona Simone, alô.
Soluços e um choro agudo do outro lado da linha.
- Não deixa, desculpa por ter te incomodado tão cedo assim.
- Fala... se eu poder ajudar a senhora?
- Ditinho, para de me chamar de senhora, senhora tá no céu, não é?
- Nâo sei...
- hahahhahhaha, você é tão encantador, tão engraçado, e também é dedicado...
Ditinho acha que está pirando, aquela mulher jamais se quer lhe tinha olhado direito, e agora lhe falava mil e um elogios, na verdade, Ditinho estava meio confuso, se fosse um sonho, daqui a pouco acordaria.
- Obrigado pelos elogios senhora, mas ainda não entendi, no que posso ajudar a senhora...
- Você já está me ajudando Ditinho...
- Como assim...
- È sei que não deveria me abrir assim com você, que não é íntimo meu nem nada mais... não tenho tido ninguém pra conversar francamente assim, sabe, e você é tão humilde, e apesar do rosto meio sofrido, é tão acolhedor, tão franco sabe...
- Já que o problema é conversar, não estava com muito sono mesmo, apesar de ter passado a noite com minha namorada, acabei de levar ela em casa e...
- E ai estava bom? vocês se amaram muito?
- Que?!
- Ai desculpa, acho que é melhor eu desligar, talvez seja os comprimidos que eu estou tomando pra dormir, que estão me deixando assim, tão franca.
- Não tudo bem, se a senhora precisar pode desabafar...
- Hoje às 16 horas na cervejaria Almeida, está bom pra você?
- Que?!
- É isso que está ouvindo, preciso desabafar, preciso te ver, te olhar nos olhos, te tocar, de alguém pra me compreender...
- Senhora é... a gente sei lá, pode conversar entende, é o que eu posso fazer pela senhora entende?
- Entendo, então está marcado?
- Sim senhora.
- Então já vou marcar um salão, pra estar bem bonita pra você, digo, pra conversar com você.
- Pra mim tudo bem, só vejo minha namorada as oito.
- Ditinho, dá pra parar de pensar nela só um instante?
- Que senhora, não entendi?
- Desculpe, tenho certeza que é o remédio, combinado então, hoje ás 16, na Cervejaria Almeida, você sabe onde é né, deixa eu desligar, que parece que o Magalhães está acordando, beijos viu até lá. TU TU TU TU TU TU.
Ditinho não entende absolutamente nada do que ouviu, e do que marcou com dona Simone, mas não era bobo nem nada, sentiu certa maldade no ar. Colocou a cabeça no travesseiro, e veio na sua memória as pernas bem torneadas de dona Simone, fechou os olhos, e mais tarde estaria na cervejaria Almeida, ainda sem saber o que se passaria.
Ditinho adormece, enquanto a favela acorda pra mais um dia de labuta.
Renato Vital é escritor.
19.2.10
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Um comentário:
da capitulo uma supresa sumemu tyu tamu acompanhado...
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