Sexta-feira, 29 julho de 2005
Escritor da periferia abre biblioteca comunitária
Buzo transformou histórias cotidianas de trens e ruas locais em livros e agora quer ajudar na formação cultural
Camila Anauate
O gosto pela leitura apareceu na infância. Desde cedo, ele descobriu que tinha habilidade para transformar em palavras as experiências vividas no Itaim Paulista. Com apenas primeiro grau completo, Alessandro Buzo, de 32 anos, ficou famoso como "escritor da periferia", transformando histórias cotidianas em dois livros e o sonho de levar mais cultura para sua comunidade em uma biblioteca comunitária, que inaugurou na semana passada no Bloco Carnavalesco Unidos de Santa Bárbara.
Buzo começou em jornais de bairro e fanzines. Dava notícias sobre futebol de várzea, mas sua visão crítica logo o levou a discutir temas sociais. Um exemplo é o livro publicado em dezembro de 2003 por uma editora independente, O Trem - Baseado em Fatos Reais. Fala do cotidiano da Linha F da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que vai do Brás até Calmon Viana e passa pelo Itaim Paulista. São episódios da linha mais "largada" do sistema. "A TV também deu sua colaboração. O governador Mário Covas aparecia em todos os telejornais impaciente com os vândalos e irresponsáveis que queimaram seu lindo e confortável trenzinho, por causa de um 'pequeno atraso'."
O capítulo "Fogo no Trem" remete a 1999, quando passageiros revoltados atearam fogo a vários vagões da Linha F. Buzo foi escrevendo ao correr dos fatos e distribuindo artigos aos passageiros do trem. "Foram eles que me incentivaram a juntar as histórias para o livro." Mas O Trem também narra momentos de alegria. "Na sexta-feira, o bicho pegava. O samba comia solto no trem. Era de lei. Tinha gente que levava até instrumentos musicais. E não era só a nossa turma; em quase todos os vagões o pessoal levava som." No outro livro, Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista, publicado em setembro do ano passado, o autor revela experiências dele e dos amigos, desde a infância até a adolescência. Fala, por exemplo, sobre a chegada do crack na zona leste.
Alessandro Buzo nasceu no Itaim Paulista, é casado, tem um filho e trabalha hoje como vendedor. Se um dia tiver oportunidade, gostaria de cursar faculdade de jornalismo. A paixão pelos livros e a idéia convicta de que a comunidade do Itaim Paulista precisa largar a televisão e ler mais o levaram a pensar no projeto da biblioteca comunitária. "A biblioteca foi inspirada na de Paraisópolis. Nunca fui lá, mas li bastante e soube que ela começou com apenas seis livros", conta. "Aí pensei que só eu tinha mais do que seis livros", disse Buzo. O bloco carnavalesco cedeu o espaço. As prateleiras foram doadas por uma empresa e os livros, arrecadados em eventos e com editoras. "Já temos pelo menos mil títulos", diz Buzo. "E não é pouca coisa. Tem até Machado de Assis aqui."
E saiu uma notícia sobre a Cooperifa no site Repórter Brasil
Evento mostra produção cultural de quem vive longe do centro
O sarau da Cooperifa (Cooperativa de Cultura da Periferia) acontece todas às quartas-feiras, em Piraporinha, zona Sul da capital paulista. Em seu sexto ano de existência, projeto se tornou o ponto de encontro de artistas da periferia de São Paulo
Texto: Beatriz Camargo Fotos: Alcimar Frazão
Numa das noites mais frias do ano em São Paulo (SP), com os termômetros marcando 10º C, cerca de 100 pessoas se reúnem para ouvir e declamar poemas e contos em um bar do bairro Piraporinha, extremo Sul da cidade. É o sarau da Cooperifa, a Cooperativa de Cultura da Periferia, que acontece todas as quartas-feiras no bar do Zé Batidão, mecenas do evento. "Zero grau na rua, quarenta graus no coração", define o poeta Sérgio Vaz, idealizador e coordenador da Cooperifa.
Bar do Zé Batidão, em Piraporinha, na zona Sul, sedia todas as quartas-feiras o Sarau da Cooperifa: o espaço é símbolo da resistência cultural da periferia, com poemas, contos e música
Dezenas de pessoas declamam textos seus ou de autores como Carlos Drummond de Andrade, Adoniran Barbosa e Dominguinhos. Todos os participantes são da periferia ou ligados a ela. "Aqui a temática é social", explica o poeta Sérgio. Alguns também falam de amor, de fantasias, mas sempre do ponto de vista do artista marginal. É o que une os "artistas-cidadãos", conceito difundido e internalizado na Cooperifa. "O artista não pode estar a serviço da vaidade, tem que contribuir com a comunidade, como faz o Ferréz, os Racionais MCs, o grupo de teatro Manicômios e outros", acredita.
Sérgio Vaz: "É preciso sugar da arte / um novo tipo de artista: o artista cidadão / Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, / mas também não compactua com a mediocridade / que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades" (Trecho de O Manifesto)
Helber Ladislau dialoga com o poema e "E agora, José?" com o seu "E agora, Drummond?": "Os mesmos senhores na terra sem dono, e agora, Drummond?"
Na poesia de Serginho, exército de caixinha de fósforos vence batalha contra soldados de chumbo. Seu primeiro livro, com Binho, será lançado dia 24 de junho no sarau do parceiro
"Se tiver com a mente e o coração abertos, pode haver a possibilidade de você se transformar e transformar a sua realidade", declama Wesley, espantando o frio com sua músicaO projeto, que existe há seis anos, é ponto de encontro e resistência da produção cultural da periferia da cidade. "No começo a gente queria ocupar um lugar para trocar poesia e cultura", explica Sérgio. Mas o movimento, conta ele, cresceu e virou símbolo de luta contra a mediocridade. "Apesar do frio, os que estão aqui hoje com certeza estão se divertindo mais do que quem ficou em casa vendo novela", brinca Márcio Batista, poeta, professor e um dos organizadores do sarau.
Para Sérgio, o principal efeito da Cooperifa é a transformação na auto-estima das pessoas que vivem nas periferias. "Muita gente leu seu primeiro livro, viu a sua primeira peça de teatro ou voltou a estudar por causa da Cooperifa", diz ele. Os artistas da periferia, que antes sonhavam em se apresentar no "centro", agora se apresentam na comunidade e são reconhecidos por ela.
Da mesma forma, a Cooperifa muda a visão do centro, que descobriu uma produção cultural de qualidade onde não imaginava que ela existisse. "A periferia hoje é uma nação em ebulição", comemora o coordenador do sarau semanal. Ele acredita que a grande subversão é trazer o sarau, um evento típico da elite, para o subúrbio. "Se isto estivesse acontecendo na Av. Paulista, não tinha novidade nenhuma."
Sérgio define: periferia está na alma. "A periferia geográfica não é importante para nós. Tem muita gente do centro que se sente marginalizado. O centro também pode ser periferia", conclui, como um convite para todos que se identifiquem com a Cooperifa.
CatalisadorA iniciativa da Cooperativa fomenta a origem a outros saraus, em outras periferias: já há notícias de grupos e eventos como esse articulados em várias regiões da cidade. Os encontros potencializam a ação dos participantes, colocando-os em contato e fazendo idéias circularem e se expandirem.
"Isso aqui é um catalisador", brinca o poeta Binho, um dos assíduos freqüentadores do local. Às segundas-feiras, ele coordena o Sarau do Binho em seu próprio bar, no Campo Limpo, também na zona Sul. Durante as apresentações, diversos recados vindos dos participantes convidam os presentes a consumir cultura nos espaços que se multiplicam: o escritor Ferréz, autor de "Capão Pecado", era um dos presentes na última quarta-feira. Aproveitou para divulgar mais um Encontro de Literatura Marginal, no próximo domingo (3), no Capão Redondo.
Outro projeto da Cooperifa é levar o sarau para a sala de aula. Este ano, sete escolas públicas já foram visitadas, atingindo cerca de dois mil estudantes. Os poetas cooperados se apresentam aos adolescentes e falam sobre a importância da leitura na vida das pessoas. "A pessoa mal sabe o que é um escritor, acha que todos eles já morreram. Quando você chega lá e fala que é escritor da comunidade, é um choque", relata.
Conseqüência dessa ebulição, a Cooperifa tem lançado diversos nomes para fora do contexto da comunidade, sendo o próprio Sérgio um exemplo disso. No dia 3 de julho, ele lança seu quinto livro de poesias. Publicado pela Editora Global, será a primeira obra de uma coleção chamada Literatura Periférica. Já em 2004, foi publicada "O Rastilho da Pólvora", antologia poética reunindo 53 autores ligados à Cooperativa. Em 2006, saiu o CD "Sarau da Cooperifa", com autores declamando suas poesias.
Serginho Poeta, de 37 anos, é outro exemplo entre os artistas que estão conseguindo publicar suas produções individualmente, através de editoras ou de forma independente. Dono de uma sorveteria, ele sonha em viver da poesia e ministrando aulas, o que considera sua grande vocação. "Mesmo que não desse para viver da literatura, eu queria pagar a faculdade". Ex-motoboy, ele chegou a cursar a Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESP), mas trancou os estudos por falta de dinheiro. O que o motiva a freqüentar o sarau da Cooperifa? O clima de cultura de resistência. O evento se amplia, há encontros com 400 pessoas, mas não perde esse foco.
Para setembro, a Cooperativa de Cultura da Periferia promete uma intervenção ousada, a "1ª Semana de Arte Moderna da Periferia". "Será a nossa vez de fazer a antropologia periférica, 85 anos depois: o teatro, a música e a poesia do centro, na nossa versão", conta Sérgio Vaz.
Mais informações sobre a Cooperifa e como comprar a produção de cooperados do Sarau, com Sérgio Vaz, pelo e-mail poetavaz@ig.com.br, ou por seu blog "colecionador de pedras". O bar do Zé Batidão fica na R. Bartolomeu dos Santos, 797 (tr. da Estrada do M'Boi Mirim, na altura da Igreja de Piraporinha, à direita). Os encontros acontecem todas as quartas-feiras, às 21h.
Ambiente da Cooperifa: CARALHO EU APARECI NA FOTO, QUE MILAGRE DA PORRA!
Helber Ladislau dialoga com o poema e "E agora, José?" com o seu "E agora, Drummond?": "Os mesmos senhores na terra sem dono, e agora, Drummond?"
SOU FÂ DO HELBER LADISLAU COM CERTEZA, É UM POETA LINHA DE FRENTE!
Na poesia de Serginho, exército de caixinha de fósforos vence batalha contra soldados de chumbo. Seu primeiro livro, com Binho, será lançado dia 24 de junho no sarau do parceiro. ESSE É OUTRO GRANDE POETA COOPERIFÉRICO!
"Se tiver com a mente e o coração abertos, pode haver a possibilidade de você se transformar e transformar a sua realidade", declama Wesley, espantando o frio com sua música. POETA QUE CANTA, DECLAMANDO, OU VICE-VERSA. GRANDE WESLEY NOOG, VALEU PELO DOCUMENTÁRIO DO BECOS E VIELAS!
E enfim:
Quarta-feira, 13 junho de 2007
Periferia nas letras
Editora Global lança coleção ‘Literatura Periférica’
GEORGIA NICOLAU, georgia.nicolau@grupoestado.com.br
Antes era sujeição, carência e inferioridade. Hoje, ser periférico está se tornando uma maneira de resistência e afirmação. A exemplo disso, o número de escritores das periferias do Brasil cresce em quantidade e qualidade. Ser da periferia significa pertencimento e identidade. “Sinto-me melhor quando anunciam a minha origem, de onde eu venho e sou”, explicou Sergio Vaz,morador do Taboão da Serra, autor de cinco livros. Vaz e mais quatro autores da periferia paulistana terão livros de sua autoria, todos já escritos em edições independentes, lançados pela Editora Global.O primeiro livro a sair ,no dia 5 de julho no Teatro Municipal de Taboão da Serra, será Colecionador de Pérolas, de Vaz, 42 anos, com prefácio do escritor Reginaldo Ferreira da Silva, conhecido como Ferréz. Vaz tem uma longa história de ativista cultural e militante literário. Com sua primeira obra publicada em 1992, ele é um dos criadores do principal evento incentivador da literatura periférica, a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), sarau semanal que acontece no bar do Zé Batidão no Capão Redondo, há mais de seis anos. Literatura feita da “periferia para o mundo”, como explicou Ademiro Alves, o Sacolinha, 23 anos morador de Suzano. 85 letras e um disparo, segundo livro do autor , faz parte da coleção, reúne contos escritos por ele e traz a apresentação do gaúcho Moacyr Scliar e prefacio feito pelo escritor e colunista do Estado, Ignácio de Loyola Brandão.Allan da Rosa, morador de Taboão da Serra, assim como Vaz, vai participar com Da Cabula - Istória pa tiatru, dramaturgia que já havia sido editada pelo seu próprio selo, o Edições Toró, através do qual lança outros autores também, com livros feitos artesanalmente e vendidos nas ruas, teatros, cinemas e saraus. Da Cabula conta a história de Dona Filomena da Cabula, camelô, moradora de quarto-cozinha em algum dos intermináveis bairros da periferia da Cidade, que sonha em aprender a ler e escrever. O livro terá prefácio de Zé Celso Martinez.Também lançado pelo Edições Toró, Maria Nilda Mota de Almeida, a Dinha, 27, lança pela Global seu primeiro livro de poesias De passagem mas não a passeio, com prefácio da escritora carioca Elisa Lucinda. Formada em letras pela USP, Dinha começou a escrever em fanzines literários, os quais produz até hoje. Moradora até o ano passado da favela de Vila Cristina, no bairro Parque Bristol, assim ela se apresenta em seu livro: “Dinha é educadora, mediadora de leitura, fanzineira, mãe da Katrine e representante da literatura produzida nas periferias do Brasil afora.”Suburbano convicto, Alessandro Buzo também começou escrevendo em fanzines e jornais de bairro. Sua estréia foi um livro sobre a situação precária dos trens que levam ao seu bairro, Itaim Paulista. Depois disso, já escreveu quatro livros, sendo que o último, Guerreira, conta a história de Rose, jovem em busca do amor.
FALOU MANO CURTI AI, AS MATÉRIAS É NÓIS PERIFERIA NA ATIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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