A aliança do PT com o PP de Maluf foi selada oficialmente na própria casa do ex-prefeito de São Paulo. As conversas e articulações, porém, já estavam adiantadas. Em troca do apoio de Maluf e do 1min35 de tempo de TV de seu partido, o PT ofereceu uma secretaria do Ministério das Cidades a um de seus apadrinhados. Mas, num tempo em que a imagem predomina, Maluf não se fez de rogado e exigiu que Lula fosse pessoalmente à sua casa, para registrar o momento histórico em uma foto. E assim foi.
A imagem do candidato do PT com uma das figuras símbolo da corrupção no país, dono de bordões como "estupra, mas não mata" e presente na lista de procurados da Interpol causou indignação até mesmo entre os petistas já acostumados à política de alianças "pragmáticas" de seu partido. A foto com Maluf deu a impressão até mesmo a esse setor de que, desta vez, o partido "passou do limite". O apoio de Maluf a Marta em 2004, por exemplo, reduzira-se a uma declaração de voto e não a poses para retratos.
O acordo com Maluf pegou até mesmo Luiza Erundina (PSB) de surpresa. Balançada, a pré-candidata a vice de Haddad criticou a aliança, ainda que, ao contrário do que chegou a noticiar alguns veículos, aceite permanecer na chapa do PT.
O coro dos hipócritas
Mas não foi só parte da militância petista que comentou a foto de Lula com Maluf. Os maiores veículos da imprensa paulista, como a Veja, Estadão e Folha de S. Paulo, estamparam com destaque a imagem, como forma de desgastar a imagem de Haddad em prol da candidatura Serra.
Menor destaque dão, porém, ao recente apoio prestado por Valdemar da Costa Neto ao candidato tucano. Valdemar, presidente do PR (então PL), foi um dos protagonistas do escândalo do mensalão. Na época, em 2005, o então deputado renunciou para não ser cassado. O apoio a Serra em São Paulo seria uma forma de vingança pelo PR ter sido preterido pelo Governo Federal na distribuição de cargos e ministérios.
O PSDB, também de olho no tempo de TV do PR, prefere esquecer por hora o mensalão, cujo julgamento no STF está marcado para agosto. Questionado sobre a "incoerência", Serra deu sua contribuição ao rol de frases esdrúxulas afirmando que faz aliança "com partidos, não com pessoas".
Diga-me com quem andas...
A foto de Maluf e Lula de fato choca. Porém não chega a ser exatamente uma novidade, já que o PP sempre esteve na base aliada do governo Lula, e agora no de Dilma. A coerência e o discurso da “ética na política” já foi há muito abandonado a favor da chamada “real politik”, que já produziu imagens como a do hoje senador Lindbergh Farias (PT) apertando as mãos do colega Fernando Collor de Melo, vinte anos após as mobilizações dirigidas pelo então presidente da UNE.
Há tempos o PT se lançou de corpo e alma ao mais puro fisiologismo. Com as fronteiras de classe dissolvidas, vale tudo, e qualquer preço nunca é caro o bastante para chegar e se manter no poder. De ruralistas a mais conservadora bancada evangélica. Os poucos militantes petistas que ainda se vêem obrigados a justificar tais alianças, costumam apontar o dedo para o PSTU “que não se alia com ninguém, mas também não elege”. Nessa lógica, faria sentido abrir mão de alguns princípios para chegar ao poder. Mas seria mesmo assim?
Passada uma década de governo petista, nenhuma mudança estrutural foi realizada. Velhas oligarquias regionais, como a família Sarney, assim como políticos como Sérgio Cabral no Rio, são eternizados pelo próprio PT. Medidas como a reforma do Código Florestal, há anos parada no Congresso, são retomadas. Até mesmo medidas aparentemente tão simples e básica, como uma cartilha anti-homofobia nas escolas para combater a violência contra homossexuais, são vetadas em nome das alianças conservadoras.
Na política, ou você luta contra a direita, os ricos e poderosos, ou se alia a eles. O PT, há muito, já escolheu o seu lado. Ingenuidade é achar que, abraçado a Paulo Maluf, é possível mudar alguma coisa.
Nota: No final desse dia 19, o PSB finalmente anunciou a desistência de Luiza Erundina de ser vice da chapa de Haddad
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