A criança que renasce em mim a cada dia

Poderia ser uma planta ou uma flor, plantada no asfaltos das desilusões.
Quando o sentimento se recolhe, não sobrou nada na rua ou no mundo, já que fazemos da rua o nosso mundo de fantasias. No final do bombardeio não sobra pólvoras ou carcaças de aviões abatidos, sobra a apenas minha sobra diante de uma bola de capotão, a esperança de um menino.
Sonhava ser jogador de futebol, bater falta por cima da barreira e explodir de emoção o maracana ou morumbi. Mas acabei quebrando a lãmpada da garagem da vizinha. Nunca quis adquirir a malícia, mas o mundo te obriga.
Acho que cresci muito rápido, que merda, não era pra ser assim, minha infância foi ceifada desde o dia que eu perdi você.
Ao seu lado era diferente, viviamos os dois como num jardim encantado, aprontando várias, e nunca nos arrependiamos de nada. Eramos duas crianças, que corria num imenso sítio, numa imensa fazenda, num imenso campo, cheios de incertezas e ilusões. Eramos só nós dois. Um menino e uma menina olhando pro céu e procurando respostas pras nossas vidas.
Tudo isso desencantou e eu nunca quis aceitar, que enfim chegou o nosso fim, e eu perdido em meio ao sentimento que me afligia não conseguia me livrar da dor maior dentro do coração.
Eu fui uma criança ao teu lado, mesmo com mais de dezoito anos de idade. Eu queria ainda ser, se o anjo da guarda ou o cúpido tivesse permitido. Mas ele te levou, só esqueceu de levar o sentimento que você deixou. Tá fincado no coração, e tem hora que eu olho pra uma árvore e lembro de você, e do nosso mundo encantado. Eramos só nós dois.
Duas crianças que um dia resnaceram, e hoje morreram dentro de nós mesmo.
Essa criança com você ainda existiria, e iriamos caminhar juntos nas florestas perdidas.

Renato Vital é escritor, poeta e sonhador ah está na próxima coletânea pelas periferias do Brasil.