14.3.11

Depois que o calendário se livra de sete folhas

Foi, ela se foi, e eu não esperava que fosse assim. Melhor seria se aquele ônibus tivesse passado por mim, e acabado com essa ángustia que assola meu peito, e machuca minha alma e meu coração. Ou se um raio ou um ataque cárdiaco fulminante tivesse acabado com meus dias na terra, seria melhor. Meu pai já me alertava desde os tempos que eu era só um moleque jogando bola na rua e zuando na escola:

- Cuidado com mulher, quando ela quer, ela se transforma no satánas de saia.

Pensei em meus ossos se remoendo no caixão, a chuva fria caindo por cima da terra marrom e sem vida de um cemitério gelado e sem nenhuma alma que pudesse entender, tamanha hostilidade de um ser humano sobre o outro.

O homícidio sentimental é a pior das piores mortes , é aquela que ninguém se toca nem nota, a não ser que olhe bem no rosto da vitíma, e contemple sua amargura e sua tristeza sem fim. Aquela amada, foi embora, antes fosse uma princesa... mas era só uma mulher, só uma mulher, destruíndo o que havia de bonito dentro de mim.

Pensando bem, suícidio não era uma boa saída, ela ficaria se divertindo com outros homens, e com suas amigas, enquanto eu ficaria debaixo da terra, sem alma, sem luz e sem razão.

Mulheres são assim, as vezes só precisam de uma aventura pra se destrair, pra contar pras amigas, que saiu com um maloqueiro, que saiu com um cara da bohemia, com um cara do movimento, com um cara que tem carro, ou coisas assim. Sabe como é, essas meninas da classe média, alta,se sentem no apogeu, quando estão do lado de um maloqueiro, vai ver foi isso.

Porra. Já deixei o ódio me consumir, como tem sido nos últimos dias. Era pra ser os dias mais felizes de minha vida. Mas não, Deus não quis, o destino não quis, ela não quis. Jamais pensei que tamanha dor, pudesse invadir meu peito, por causa de uma menina, uma menina, que destruiu minhas esperanças e meus sonhos. Daqui pra frente nada terá mais razão, a não ser que a razão me encontre.

Você parecia tão fria aquele dia, mas hoje eu te entendo, o ser humano deve ser assim, é de sua natureza ser frio e calculista, se aproveitar dos momentos e das situações, se aproveitar da fraqueza alheia, e se sobrepor, sobre um ser vencido, pelo menos emocionalmente.

Talvez como aquelas flores que eu via, que a gente vai arrancando pétala por pétala, assim eram meus anseios, meus desejos, que você foi arrancando um a um, bem devagarinho, sem que eu percebesse, pra quando eu notasse, meus dias tivessem findado e eu não pudesse mais recuperá-los.

Dias felizes, que se foram, poderiam ser mais felizes hoje, se você aqui estivesse.

Cada passo dado, a diante, distante, sem você, foi uma surra que eu tomei por dentro.
Mas deixa disso, deixa pra lá, talvez você nem se lembre mais. Nem se lembre do que ficou pra trás.

Ele, também não está nas melhores das situações, uma mulher que o traiu, morando no mesmo apartamento e no mesmo teto. O traiu com um maloqueiro num parque, simplesmente um parque, ali na água branca próximo a barra funda. Ele soube de tudo através de emais, que ele enquanto racker, abriu pelo seu notebook. Hoje enfestado de vírus de desilusão.

Mas eu ainda me lembro do último sorriso que me deu, talvez a última demonstração de afeto e carinho. Amizade? De você não quero mais... Somos mais que uma simples amizade, e isso o destino não pode mudar. Mas agora são apenas dias que ficaram pra trás, dias que findaram e não voltam nunca mais.

Capítulo do livro, Quero te pra mim. lançamento previsto pra 2015.
Renato Vital é escritor.

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